Literatura incendiária
Para os meus três anos, o mar, antes de ser paisagem, foi cheiro. Não era concha, nem espuma. Cheiro. Meu pai, antes de ser figura, gesto, bengala ou pura palavra, também foi cheiro. Ninguém tinha nome na minha primeira infância. A estrela-do-mar não se chamava estrela, nem o mar era mar. Só quando cheguei ao Rio, em 1916, é que tudo deixou de ser maravilhosamente anônimo.Nelson Rodrigues - Confissões.
Quando ando de táxi, sinto uma euforia absurda e terrível. Isso vem de longe, vem de minha infância profunda. Bem me lembro dos meus seis, sete anos. Meu pai deu um passeio de táxi, com toda a família; e eu, na frente, ao lado do chauffeur, teci toda uma fantasia de onipotência. Repito: o táxi ainda me compensa de velhas e santas humilhações.
O ônibus, não. Quando ando de ônibus (e, às vezes, só tenho o dinheiro contadinho do ônibus), viajo como um ofendido e sou, realmente, um desfeiteado. É uma promiscuidade tão abjeta, que eu diria: o ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
Nelson Rodrigues.
O ônibus, não. Quando ando de ônibus (e, às vezes, só tenho o dinheiro contadinho do ônibus), viajo como um ofendido e sou, realmente, um desfeiteado. É uma promiscuidade tão abjeta, que eu diria: o ônibus apinhado é o túmulo do pudor.
Nelson Rodrigues.
Georges Bernanos - o “Dostoiévski francês”- como é por vezes chamado, foi autor de clássicos como "Sob o Sol de Satã" (que seria adaptado ao cinema por Maurice Pialat, ganhando a Palma de Ouro em Cannes), "Diário de um Pároco de Aldeia" e "Nova História de Mouchette" (filmados por Robert Bresson). Casado com uma descendente da lendária Joana d’Arc, Bernanos externava em seus livros uma visão trágica, melancólica, porém repleta de esperança cristã, sedenta por milagres e santi...
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